Luna estava desolada, de nada adiantaram suas lágrimas melodramáticas. Djalma, professor de Geografia sem alma, sem sentimento (e sem cabelo no cocuruto), não se abalou nem um pouquinho com elas e não lhe deu o meio ponto pelo qual ela tanto implorou. Resultado imutável dessa história: era sua segunda nota vermelha no bimestre, o que lhe renderia em castigo daqueles, como sua mãe já alertara. Ficaria em festas, sem cinema, sem praia e sem música por tempo indeterminado. Que tragédia maior do que essa?
O pior ainda estava por vir. No dia seguinte, Luna teria prova de Matemática - que simplesmente odiava - e precisava estudar muito, muito mesmo, para se dar bem. Caso contrário, ela teria sua terceira nota vermelha no boletim, o que significava um aumento drástico do já terrível castigo: televisão, shopping e computador também seriam cortados de sua vida. Ou seja, tortura geral, crueldade total.
Não bastasse o drama que vivia com as notas, Luna soube que o fofo do Pedro Maia, dono dos cílios mais enormes, mais lindos e mais charmosos do planeta, ficou com a metida da Lara Amaral, uma menina que se achava tudo de tudo, mas que era nada de nada. Para piorar, a fofoqueira da Bia Baggio (que em algumas semanas era sua melhor amiga, em outras sua pior amiga) espalhou para toda a escola que Luna tinha inveja de sua criatividade. Só porque seu blog tinha unas gifs animados parecidos com os do blog dela. Definitivamente, aquele dia não era dos mais felizes na vida de Luna.
À noite, enquanto devorava números, cálculos e fórmulas, a menina sabia que em pouco tempo sua mãe chegaria do trabalho e lhe daria uma bronca, a nonagésima sétima da semana, ao constatar que seu quarto continuava o retrato do caos, como se por lá tivesse passado um furacão dos grandes. Roupas amontoadas em cima da cômoda, da escrivaninha e no chão, meias e tênis espalhados por todo canto, CDs fora das caixas, papéis de bala pelo colchão, prendedores de cabelo embaixo da cama, livros abertos, lápis, canetas e revistas adolescentes por todo lado... Por conta da bagunça (e também do alerta do castigo-pedreira), o clima entre ela e sua mãe não estava nada bom e a tendência era piorar.
Foi o que aconteceu.
Mãe de Luna(Marcela): Ah, não, Luna! Não acredito que você ainda não arrumou esse quarto! Está parecendo um chiqueiro!
Luna: Eu tenho que estudar, mãe!
Mãe de Luna: Arruma e estuda depois! E diminui esse som!
Luna: Música alta me ajuda a concentrar.
Mãe de Luna: Conversinha! Diminui esse barulho horroroso e arruma essa bagunça já!
Luna: Mas tem muita coisa para arrumar, vai demorar e atrapalhar meus estudos! E você não quer que eu me dê mal na prova de Matemática, né?
Mãe de Luna: Espero que você se dê maravilhosamente bem nessa prova, porque três notas vermelhas no bimestre é demais para a minha cabeça! E você sabe o que vai acontecer se seu boletim vier com três notas vermelhas, não sabe?
Luna: Sei - rosnou. - Vou entrar num castigo desumano, cruel, o pior castigo já dado a alguém desde que o mundo é mundo.
Luna levantou-se e, irritada, emburrada e cheia de má vontade, começou a arrumar a bagunça sob o mal-humorado olhar materno.
Mãe de Luna: Não tenho medo de cara feia, não, viu? Cara feia pra mim é fome - disse antes de sair do quarto.
Foi só ela bater a porta para a menina logo parar a encenação.
Luna - garota da Zona Sul viciada em fruta-do-conde e pingue-pongue e alucinada pela lua (Luna significa "lua" em italiano, e ela sempre adorou isso) - era apaixonada por seu quarto, mas nunca gostou de arrumá-lo. Costumava dizer que se entendia na sua bagunça. Seu quarto não era o quarto que se espera de uma menina de 13-quase-14 anos. Nada de rosa, nada de cortininha meiguinha, de coisinhas fofinhas e bonitinhas de pelúcia. Tudo lá era multicolorido e pintado à mão por ela, que, aos três anos, já mostrava aptidão para lidar com os pincéis.
As paredes eram decoradas pelas telas que pintava e o banquinho de madeira que ficava ao lado de sua cama também era "Lunamente" colorido, como ela gostava de dizer. Tudo tinha seu toque de artista: a cama, o armário, a caneca, até o teto... A adolescente adorava pintar o sete no quarto que não era quarto, era a Casa da Luna, como frisava a placa pintada por ela pendurada na porta. A porta, aliás, era cheia de luas. Crescentes, minguantes, cheias... De várias formas, cores e tamanhos.
Depois do jantar, por volta das oito e maeia, ela conectou-se para um animadíssimo bate-papo virtual com Nina Dantas (sua melhor amigas número dois). O assunto era Lara Amaral.
Continua na segunda parte...

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